terça-feira, 24 de abril de 2007

Post Fast-food: analises relâmpago de reportagens do Fantástico!!



Neste domingo, na falta de algo melhor para fazer (depois de ter tomado o sagrado sorvete semanal com a patroa :P), acabei assistindo boa parte do programa global “Fantástico”. Esse post é uma analise rápida de algumas reportagens mostradas.


Vizinhos

Eu nunca li Sartre. Tentei uma vez entende-lo de maneira razoável em um livro da série “filósofos em 90 minutos”, mas o resultado foi pífio. Mas mesmo assim, graças a uma única frase atribuída a ele (do qual nem sei o contexto :P), me considero fã do cara. Qual frase? Esta: “o inferno são os outros”.
Essa frase vale mais do que muito livro inteiro. Eu “vejo” ela acontecer a todo instante a minha volta: em fórums na internet, em comunidades do Orkut, nos ambientes públicos, na relação entre vizinhos... em todos esses lugares e situações (e em muitas outras, dos quais não cito para não me estender muito), fica obvia como a tolerância humana com seu semelhante é pequena – e também fica bem claro como o respeito ao “outro” geralmente é nula.

A matéria do fantástico, ao mostrar a convivência dentro de um condomínio de prédios (e os conflitos decorrentes dela), foi extremamente feliz em sua abordagem. A reportagem conseguiu mostrar uma imensa gama de “Joselitos” (criadores de cachorros mal-educados, barulhentos sem-noção, e até mesmo os “atiradores de lixo pela janela”). Disso tudo, o mais “engraçado” foi o fato de nenhum deles se enxergar como “culpados” ( o inferno, claro, é sempre os “outros”). Nenhum deles pareceu se colocar no lugar do “outro”, olhando apenas seus problemas individuais. O mais grave nisso tudo, é que era extremamente fácil resolver os problemas com o mínimo de bom senso (como transportar os cachorros pelo elevador de serviço, usar fones de ouvido ou ser minimamente higiênico). Eram problemas que um pouco de “empatia” resolvia.

Existe um fator ainda mais interessante para notar: o individualismo de todos acabava por prejudicar a todos!! Como numa versão moderna do “estado de natureza Hobbesiano”, acredito firmemente que esse quadro tornava a vida da absoluta maioria bem mais difícil (o criador de cachorro provavelmente vai “receber” lixo na janela, os barulhentos serão atacados por cachorros no elevador, e os “lixeiros” provavelmente vão sofrer com a baderna dos “barulhentos”).
Será que um dia esses panacas acabarão por perceber isso (que todos saem prejudicados com a “falta de noção” individualista)? Ou continuarão com sua eterna guerra de picuinhas? Minha experiência empírica diz que esse quadro dificilmente muda, mas ainda tenho uma fagulha de esperança na humanidade (minúscula, mas tenho)... Só espero que aqueles otários resolvam seus problemas sozinhos logo – antes de um sindico absolutista tome o poder e acabe com a regalia de todos...


Auto-Hemoterapia

O fantástico também mostrou uma boa reportagem sobre um fenômeno de fraude medica conhecido como “Auto-Hemoterapia”.
Achei muito boa a iniciativa de alertar a população sobre essa prática fraudulenta. Só que ainda assim, creio que a reportagem poderia se estender mais.

Será que ninguém mais (além de mim) consegue enxergar que parte da culpa desse fenômeno é resultado da péssima situação em que se encontra a saúde publica brasileira? Ou simplesmente não tiveram coragem de abordar isso na reportagem?

Tais praticas fraudulentas costumam surgir no vácuo do Estado. Exemplo? Em determinado momento da reportagem, uma mulher entrevistada (usuária do método) diz algo como “eles conversam com a gente”. A frase da Mulher resume toda a questão.
Em um sistema de saúde sucateado como o SUS, onde a demanda por tratamentos supera absurdamente a capacidade do Estado em fornecê-los, o evento mais comum é um paciente ser tratado como “coisa”. A “coisa” fica horas na fila. A “coisa” é mal atendida por um medico que mal olha e conversa com ela (e não é culpa do “individuo” medico, já que provavelmente ele atende mais casos do que a capacidade humana dele permitiria). A “coisa” é encaminhada para uma outra fila para ter acesso ao tratamento. A “coisa” é novamente mal atendida. A “coisa” recebe o tratamento errado, insuficiente, ou não o recebe. A “coisa” começa a se cansar de ser vista como “coisa”...
Pois bem, agora imagine finalmente a “coisa” sendo atendida como “pessoa”... imagine ela não ter que passar por imensas filas, ser bem atendida e ouvida e ainda de quebra receber a promessa de uma “cura milagrosa”. É obvio que entre o SUS e o medico charlatão ela vai ficar com o ultimo (que por bem ou mal, a tratou como gente).

E esse não é um fenômeno isolado. Existem em profusão sintomas da falência do Estado em cumprir suas obrigações. Um dos exemplos mais óbvios é referente ao crescimento das igrejas evangélicas neo-pentecostais em áreas de intensa pobreza (onde o vácuo do estado é quase absoluto). Muita gente “branquinha e rica” fica se perguntando como “pobre” acredita mesmo que um pastor vai tirar o “capeta” do corpo dele (e com isso, seus outros problemas). A resposta é simples: ele não tem muita alternativa!! Depois de sofrer todo o processo “coisificante” do Estado, a mínima fagulha de esperança é encarada como um “sol”. A culpa não é do “pobre” por ser burro, mas do estado por ser incompetente (o “pobre” pode até ser burro, mas será que isso não tem nada a ver com péssima situação do ensino publico?).

Assim sendo, acredito que enquanto a política do estado se focar unicamente em “combater os charlatões”, e não olhar para o próprio rabo, o problema só tende a agravar-se... Os charlatões agradecem.


Igreja Católica

Somente para finalizar, estou notando o recomeço de namoro entre a “rede globo” e a “igreja católica”... vou continuar analisando os “sintomas”, mas acho que vou ter assunto para um mega-post em breve.


PS: ainda nesta semana, analise “sociológica-nerd” sobre o massacre ocorrido na universidade americana. Não percam!


2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom, espero o post do massacre

Alvaro Trigo Fernandes disse...

desculpa o post do massacre ter atrasado (mais tarde explico o porque para os leitores). mas breve ele irá aparecer.